sexta-feira, 24 de junho de 2011

Petra

O dia comeca cedo, 5h30 e o despertador ja' esta' a tocar para um longo dia!
Compro o bilhete e vou procurar por um guia oficial para me orientar em Petra. Como ainda e' cedo e estamos na epoca baixa, agravada pela situacao dos paises vizinhos, ainda nao chegou nenhum. De qualquer modo, o responsavel pelos guias convida-me a entrar e tomar cafe' com ele enquanto espero pelo guia. "Este cafe' e' doce e bom!", digo-lhe eu. "E' um cafe' especial, e' cafe turco. Ves aqui este saco?! Custa 45 JD, enquanto que se fores ai' 'as lojas o cafe' custa cerca de 5 JD. Toda a gente prefere o meu cafe!"...
Entao comeca a maratona. Os primeiros 700m sao opcionalmente em cima de um cavalo ou mula (esta' incluido no bilhete, excepto a gorjeta do tratador), desde logo comeco a cruzar com tumulos Nebateus (100 BC - 50 BC) ate' chegar 'a Siq, o nome da entrada de Petra cujo significado e' passagem estreita. E la' vou eu pelo exiguo desfiladeiro ate' chegar 'a atracao principal, the Treasury cuja objectivo era impressionar quem chegava a Petra e, realmente, consegue-o fazer na perfeicao! E' incrivel como fizeram isto escavando a rocha!...
O nome deste monumento/templo/fachada/o-que-lhe-quiserem-chamar vem de uma lenda que dizia que no seu interior estava um tesouro escondido. Por esse motivo, no topo da fachada tem-se uma esfera de pedra que esta' parcialmente estragada pois, para tentar capturar o tesouro (que suspeitavam estar no seu interior) foram disparados muitos tiros para a tentar derrubar, ate' chegarem 'a conclusao que era macica e, por isso, nao poderia conter nenhum tesouro.
Sigo o meu percurso ao longo da parte central desta cidade, a cada 10-20m ha' algo para ver, tumulos, mais tumulos, templos, um anfiteatro ate' chegar 'a zona (com mais vestigios da epoca) romana, a Colonnaded Street. Sim, depois dos Nebateus erguerem esta cidade de tao elevada importancia para peregrinos e mercadores, mais tarde foi ocupada pelos romanos.
Ate' chegar ao Qasr al-Bint que e' o 'unico templo, que nao foi escavado numa rocha, que ainda hoje sobrevive 'as inundacoes e terramotos a que cidade foi sujeita.
A partir daqui terminou o trabalho do guia e sigo sozinho. Tal como me disseram em Jerash. "se tiveres de optar pelo Monastery ou High Place of Sacrifices, vai pelo Monastery. 'E normal fazer-se apenas um destes. A caminhada e' longa mas vale a pena! E depois segue em frente ate' a um mirador com uma vista optima". E' a altura certa para comecar a comer umas bolachinhas para me darem energia para a subida.... Uhm... bolachinhas aromatizadas por erva fresca fermentada acabadinha de ser expelida pelas mulas... com o sol a bater nas rochas, e o caminho estreito, este aroma entranha-se nas fossas nasais que ao fundir-se com o paladar das bolachas que vem da boca, fazem uma maridagem interessante... mas... dispensavel!
Ao fim de 30min a subir pelo desfiladeiro (correspondente a um incremento de 220m de altura), la' chego eu. Realmente valeu a pena!... Aprecio o monumento e depois continuo a subir para o mirador. A vista e' sem duvidas boa mas nao a melhor do dia!
Pronto, e' altura de voltar para tras ate' ao centro da cidade para depois decidir onde ir. Pelo caminho cruzo-me com dois miudos numa mula a quem peco para lhes tirar uma fotografia. "Podes. Tiras-me uma fotografia mas tens de ir visitar a minha loja", disse-me a mais velha que tinha cerca de 10 anos. Para um beduino, o ingles dela e' impressionante que depois de lhe perguntar la' me diz que aprendeu na escola e, apesar de nao mencionar, claro esta' que pratica bastante com os turistas.
La' lhe faco uma compra e como nao tinha troco desce comigo ate' uma barraca de bebidas. Pelo caminho oferece-se para me tirar uma foto (e, sem sucesso, ganhar mais dinheiro) e foi incrivel como ela me pega na maquina e comeca a carregar nos botoes todos, a pesquisar outras fotos que tinha na maquina "deixa, eu sei fazer isso". E realmente fazia.
Como ja' estava a precisar de beber alguma coisa fresca, para facilitar a troca de dinheiro, la' bebo um sumo de limao (acido) com menta e ofereco-lhe um a ela pois nao havia troco suficiente. Soube-me mesmo bem este sumo bem acido e refrescante.
De regresso ao centro da cidade, ainda nao eram 12h mas estava cansado, a precisar de descansar, beber e comer. Por isso, aproveito para ir ao 'unico restaurante da cidade que era mesmo ali. Durante quase toda a refeicao era o unico no restaurante. Comi entradas (que por is so' ja' faziam uma refeicao), prato principal e sobremesas. Aproveitei para me descalcar e dar liberdade aos meus pezinhos que me estavam a pedir. Demorei cerca de 1h a comer. Dava uma garfada, li-a uma pagina do guia (para preparar os pontos seguintes a visitar), respirava, mais um suminho de limao e menta (que comecou quase a fazer um buraco no estomago e, por isso, tive de comecar a beber aguinha), um gole de agua... mais uma garfada... uma pagina, respirar, um gole de agua... Para terminar teve de ser um chazinho de menta... e depois de respirar fundo... la' me levantei para a caminhada da tarde.
Para nao passar por locais que ja' tinha passado, decidi fazer um percurso que me dava ideia ligar dois locais que pretendia visitar (e que felizmente se veio a verificar). Da informacao que tinha lido, e que pude confirmar, nao ha' muitas indicacoes dos trilhos a seguir... antes de comecar, e como estava num local central, resolvi pedir ajuda "qual o caminho para Wadi Farasa? E, depois High Places of Sacrifice?", "e' longe. E' melhor ires de mula que e' mais rapido e cansas-te menos", "nao quero, prefiro ir mesmo a pe'. Quanto tempo leva ate' la'?", "muito!... 1h ou mais! E' melhor ires de mula, faco-te um bom preco", "nao quero, vou a pe'!". La' me indicam um trilho esquisito e la' vou eu sem referencias nenhumas se estou pelo caminho certo ou nao. Olho para a agua que tenho, combino comigo proprio que se me vir perdido regrsso para tras, e la' vou eu. Para comecar cruzo logo com uma placa a indicar que e' recomendavel ir com guia ou pelo menos, totalmente desconselhavel ir alguem sozinho. Isto faz-me pensar... resolvo seguir outro trilho que nao me parece ser o que eu pretendia mas, como nao havia indicacoes nenhumas... ate' que ao fim de algum tempo vejo um beduino 'a minha frente "ele deve saber o caminho e com jeito ate' vai para Wadi Farasa...". Tento segui-lo... ele desaparece... vejo a cabeca dele ao longe... dou uma pequena corrida... e la' o consigo encontrar. Ele indica-me a direcao que devo seguir, ufa! Comeco entao a "tropecar" em tumulos, monumentos, rochas diversas cores, etc. Uns metros mais 'a frente cruzo com um casal de turistas "Wadi Farasa e' por aqui? Da' para ir para High Place of Sacrifice?", sim, da'. "Acho que ha' dois caminhos e este e' o mais complicado.", responde-me o homem. "se fores a passo rapido deves demorar cerca de 30min pelo menos! A tua 'agua... uhm... e' capaz de chegar... mas se quiseres ja' ali 'a frente ha' uma barraca e podes comprar mais.", disse-me a mulher.
La' continuei o meu caminho e a maior parte do tempo nao via alma viva nenhuma! Vestigios de Nebateus era aos pontapes! "Aqueles tipos foram mesmo incriveis! Conseguiram escavar rocha em todo o lado e incrivelmente faziam angulos retos nas paredes interiores".
Ao longo do caminho, por varias vezes, parecia que chegava a um ponto sem saida. Mas, a ideia era sempre pensar "vai haver uma brecha qualquer". E era verdade, havia sempre um caminho, uma brecha escondida que permitia continuar para algures. Ao fim de 20min de caminhar nunca mais me passou pela cabeca voltar para tras. E, psicologicamente falando, os reforcos positivos (uns vestigios de degraus Nebateus, 2 ou 3 degraus dos tempos de hoje, uma placa a indicar o nome do templo que coincidia com o mapa que eu tinha...), foram ajudando nesta caminhada. Ja' para nao falar na optima paisagem, nas pedras de cores diferentes, nos templos, etc. por onde ia passando.
Ao fim de 1h30 la' chego ao destino. Ufa! No inicio da manha doiam-me as pernas mas nesta altura, inexplicavelmente ja' nao. Ou ja' nao as sentia... O High Place of Sacrifice por si nao justifica o esforco. A caminhada em si, sim. E a vista que se tem deste local sobre a parte central da cidade, vale a pena!
Hora para descer e tentar ou descobrir como consigo ver a Treasury por cima durante o por-do-sol e/ou ver os tumulos reais que de manha passei la' mas como o Sol estava por tras, nao ajudou.
Na descida tambem nao cruzei com muita gente. Uns 5 ou 6... ate' que viro uma curva e encontro uma Beduina, na casa dos 20 anos, numa banca de venda que insiste comigo em me sentar e beber um cha' com ela. Havendo os argumentos certos, sou facil de convencer... Bastou pedir duas vezes, um sorriso bonito (mesmo com um dente partido, que fez questao de nao o mostrar quando lhe tirei uma foto) e umas feicoes a condizer e eu ja' estava no chao! Ela vai buscar um copo para mim... "o copo deve vir bonito... mas, o que nao mata esfola...", penso eu. Surpreendentemente passa o copo por agua (que nao sei de onde veio) deita cha' e la' comeca a conversa e a tentativa de me vender alguma coisa. O sorriso dela e' mesmo bonito... e os olhos marcam... Passando um pouco chegou o pai. Mostram-me fotografias da familia e fico a saber que ele tem 2 mulheres. "E' comum os beduinos terem mais do que uma mulher?", pergunto-lhe eu. "Sim, o normal e' ter 4!". "4??? Assim tem 4 vezes mais problemas!", comentario de portugues! :-) Ao que ele sorri e faz um ar de quem parece nao concordar totalmente!
A filha la' continua a tentar vender-me moedas Nebateu ou Romanas. "Sabes, foram encontradas aqui.", "Como as encontram?", "Apos as chuvas elas aparecem!". Aproveito e pergunto-lhe se ha' aqui um caminho para se ver o Treasury por cima. "Sim, sim, ha'. Mas tens de ir com um local. Tu sozinho nao consegues encontrar. No ano passado houve um turista a quem se disse o mesmo mas ele resolveu ir sozinho. Acabou por cair e 1 semana depois foi encontrado morto!", disse-me a mulher. Se quiseres amanha vou la' contigo. Hoje nao posso. A minha mae esta' doente e tenho de estar aqui.", continuou ela. "nao posso, amanha vou para Wadi Rum", respondi-lhe eu. Era optimo poder fazer esse caminho com ela. Com um beduino estamos muito bem entregues e eles mais que ninguem conhecem os cantos 'a casa. Por outro lado, ainda bem que nao deu para ir... senao ainda perdia a cabeca e tinha de sair da Jordania a correr antes que levasse um arraial de porrada!!!... ;-)
La' me despedi e segui o meu caminho pois o Sol estava a comecar a baixar. Mais tarde, estava eu noutra zona e vejo alguem a acenar para mim. Era a beduina e o pai que estavam agora noutro local e que me reconheceram!!! :-)
Vou num instante ver os tumulos reais e dirigo-me para a saida, sem deixar de parar de novo na Treasury e estar cerca de 15min 'a espera do momento certo para tirar uma foto sem turistas nenhuns a estorvar!!!
Comeco a fazer o meu caminho de regresso nao sem antes um jovem local oferecer-se para me tirar uma fotografia quando me viu a tentar tirar fotos. Mas, afinal o que ele queria era uma foto comigo... e quando estamos a postos poe o braco por cima de mim... "mas que e' que se esta' aqui a passar?... o que e' que este gajo quer?", pensei eu. Depois de tambem se juntarem 'a fotos outros 2 amigos dele, la' me disse que queria que lhe desse o meu colar que tinha ao peito. La' lhe disse que e' um colar do Peru - Pachamama - que significa algo para mim e, por isso, nao lhe podia dar. H'a segunda nega, ele la' desiste! Ufa! Por acaso quando vim, pensei que poderia deixar ca' o colar mas, teria de ser por causa de um momento marcante ou alguem especial. E esta situacao nao era uma coisa nem outra. De qualquer forma, pedi-lhe o email e prometi que lhes enviava as fotografias.
De regresso ao hotel tomo uma choveirada e vou jantar depressa pois o Petra By Night comeca dentro de 1h.
La' entro eu de novo em Petra (Petra 'e o nome da cidade Nebateu, a cidade de apoio onde estao os hoteis chama-se Wadi Musa), mas agora ja' de noite e apenas iluminado por velas que estao no chao e em silencio. Ate' se chegar a Treasury que esta' cheia de velas no chao e onde nos encaminham para sentar no chao at'e comecar o espectaculo. Tocaram cerca de 4 musicas em solos de dois instrumentos tradicionais, falam um bocado da historia daquele local e da Jordania e termina o Petra by Night. Sinceramente nao fiquei grande fa. Sim, e' interessante ir la' 'a noite, ter o caminho iluminado por velas mas, a musica em si, alem de ser curta, nao me pareceu grande coisa.
Volto a fazer o caminho de regresso e agora custa-me bastante. "Ai o que eu dava por uma mulinha!!!". Quase de certeza que durante o dia cabei por fazer mais do que 20 Km!
Para terminar, e nao me alongar mais, Petra e' imperdivel! Vale mesmo a pena. Se estivesse ca' 2 dias, enchia-os facilmente!... As 412 fotos que tirei so' neste dia, dizem muito!... Quem gosta de fotografia (e ao contrario de mim, percebe da poda), recomendo vivamente a vir ca' e trazer todo o material. Motivos de fotografia nao faltam!

Sem comentários: