domingo, 7 de agosto de 2011

Wadi Rum

Chego a Wadi Rum por volta da hora de almoço e mais uma vez deparo com um deserto diferente do que estava à espera (imensidão de dunas de areia sem estradas). Uma estrada alcatroada a atravessar o deserto que é constituído por grandes planícies interrompidas por elevações de rochas de granito e calcário e vegetação escassa.
Adicionalmente também cruzo com a linha ferroviária que hoje serve para transporte de cargas mas que durante a revolta Árabe foi de grande importância estratégica no combate das tropas turcas (Damasco - Mecca), que as utilizavam para transportar militares e material de apoio.


Este deserto, que foi o cenário do filme Lawrence da Arábia, também é conhecido como "O vale da Lua" devido às suas características aparentarem a da superfície da Lua... Realmente é único mas, pessoalmente, parece-me um pouco diferente da superfície lunar... Tenho de ir à Lua para confirmar! ;-)
Acabo de almoçar e vou dar uma volta de jipe pelo deserto. É estranho andar-se nas dunas um pouco sem destino e sem se conseguir identificar pontos de referência...





Um pouco mais tarde começo o meu longo passeio de camelo. Foi a minha primeira experiência em cima de um camelo. Bastante desconfortável. Ao fim de 30min já estava farto "por mim já ficaria por aqui..." pois fazia demasiada força para me equilibrar em cima do camelo e o assento não era do mais confortável... Mas, ao fim de mais algum tempo lá consegui apanhar o jeito e andar relaxado podendo usufruir da viagem e da paisagem circundante. Até que ao fim de cerca de 2h chegou o momento alto do passeio. Acabamos por parar numa tenda beduína onde apenas estava lá um homem. Oferecem-me um copo de água fresca que caiu muito bem (ainda pensei duas vezes se deveria beber pois não sabia de onde vinha a água... mas, para não ofender ninguém "que se lixe, siga para a frente... o que não mata, engorda... e, acho que li algures que a água de Wadi Rum é boa para beber").
O dono da tenda pega no seu Oud (instrumento tradicional árabe de 12 cordas parecido com um alaúde) e começa a tocar.



Estavamos num final de tarde, a tenda localizava-se num ponto ligeiramente mais elevado o que potenciava a maravilhosa vista sobre Wadi Rum. Apenas 3 pessoas naquele local (eu, o dono dos camelos e o dono da tenda) e a ouvir música instrumental ao vivo... uma paz! Muito bom! Está-se bem! Este momento foi sem dúvidas o melhor do dia.
Uns minutos depois não resisti e pedi-lhe para experimentar tocar no Oud... Foi engraçado que entretanto o dono dos camelos ausentou-se de tenda por 5min e quando regressou fez uma cara de espanto quando me viu com o Oud nas mãos a tentar fazer um pouco de música Ricardó-Jordana :-)



Chega a hora de jantar e já me encontro no acampamento onde vou pernoitar. Nessa noite estavam cerca de 50 pessoas no acampamento. Do que consegui apurar eu era o único europeu, depois havia um casal Sul Africano que estava com a filha e os restantes eram árabes.
No final do jantar começou um espetáculo tradicional beduíno. Curiosamente só homens a dançar e por vezes a cantar. "Estes tipos não têm danças em que participam mulheres?!". Numa fase mais avançada, já depois de eu ter sido raptado para entrar nas danças, sou envolvido numa parte em que se representa o casamento de uns princípes (ou reis... não consegui saber ao certo o que era). Então vão os noivos à frente e nós vimos atrás a cantar e a bater um ritmo com as mãos (como não sei árabe, tive de me restringir à parte das palmas). Até que a certa altura... PUM-PUM-PUM... tiros! Um dos turistas que estavam a assistir resolveu pegar na pistola e começar a dar tiros para o ar, para tornar o espetáculo mais real. Chiça... aquilo faz um barulho tão cortante que até tinha dificuldades em manter o ritmo das palmas!... (na manhã seguinte, ao falar com o casal Sul Africano, confessaram-me que também se assustaram um pouco com os tiros :-))




Um pouco mais tarde, uma vez que estava cansado e no dia seguinte levantava-me cedo para ir para Aqaba, resolvi abandonar a festa e ir-me deitar... Estava eu a dormir descansadinho até que começo a ouvir a falar árabe junto à minha tenda e a tentarem abri-la... Fez-me logo lembrar os filmes do Indiana Jones quando está pelas arábias e se tenta esconder de um conjunto de homens que falam árabe... Ainda pergunto o que querem mas não me respondem... como aquilo não parava e tentavam entrar na minha tenda, levanto-me e vou ver o que querem... "sóri, sóri, sóri...". Eram do grupo do fulano que deu os tiros ("respeitinho, Ricardo") e tinham-se enganado na tenda!... Já não tentaram mais entrar na tenda mas o barulho continuou por mais alguns minutos. Pude confirmar pessoalmente o que já me tinham dito: Os árabes são muito barulhentos!!!

Sem comentários: